segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Gastronomia Mimosa de Fazenda


Uma das cachoeiras da Estância Mimosa
Fotos: André Seale

Muitas cidades pelo mundo são consideradas "turísticas" por suas atrações/belezas/bizarrices. Em geral, essas são as que a gente vai sem pensar muito no que vai comer porque o lugar se basta. Fernando de Noronha é um bom exemplo disso: se vou tomar toddynho ou champanhe, não interessa; o legal lá é mergulhar.

Mas há para mim um quê a mais num destino quando ele possui, além das atrações supimpas, uma delícia gastronômica qualquer. Mesmo que seja uma simples torta de chocolate, como Viena, ou um guaraná diferente (e rosa!) chamado Jesu.s, como no Maranhão. Aquela comidinha especial acrescenta sensações ao viajante que experimenta um lugar.

Em Bonito, da primeira vez que fui, nada existia de "exótico gastronomicamente" além da carne de jacaré - que eu logo fiquei encafifada com sua sustentabilidade - e da cachaça Taboa, feita com canela e muito deliciosa, por sinal. Mas quando se vai a Bonito, vai-se para curtir a natureza e a comida é um detalhe. Dessa vez, entretanto, além da carne de jacaré notei que há um movimento de vários restaurantes para melhorar a qualidade gastronômica da cidade, incorporá-la à visão pantaneira de alimentação, principalmente vendendo as chamadas carnes exóticas (javali, cateto, etc.) além de um sem-fim de pratos com peixes. E a carne de jacaré continua lá como carro-chefe - me garantiram vir de um criadouro em Miranda... Mas nenhuma dessas exoticidades gastronômicas se compara a mais simples e maravilhosas das atrações que visitei no último dia em Bonito: a Estância Mimosa. E que coloca Bonito de vez, a meu ver, na rota do turismo agrogastronômico.

Não são muitos os visitantes que vão à cidade e têm tempo para apreciar a Estância Mimosa. Mas deveriam. A fazenda tem uma trilha com diversas cachoeiras, muitas delas possível de se banhar, lindas e em meio a uma área bem preservada, com microambientes de cerrado e mata ciliar, rica em animais (alguns ameaçados). Passam-se cerca de 4 horas andando, quase o tempo todo ouvindo o barulho do rio correndo.











Trechos da trilha da Estância Mimosa.

Mas é a comida na Estância Mimosa que impressiona. Assim que chegamos, fomos recepcionados com um "lanchinho" da manhã, com bolos diversos, café servido em canecas de metal pintado (na melhor tradição da roça), sucos, um monte de geléias caseiras de frutas da região com biscoitinhos e um pote enorme de requeijão feito em casa - que na hora que chegamos ainda estava quentinho, tinha acabado de ser feito! Só ali, naquele início de visita, devo ter engordado um quilo.


O "lanchinho" inicial.
Na companhia do guia Rafael, saímos só eu e André para a trilha, já bem alimentados. Rafael foi sensacional. Enquanto caminhávamos, contou diversas histórias de Bonito, de sua atuação como turismólogo, da vida na fazenda, dos detalhes ambientais do local, mostrou macacos, jabutis, nos fez passear de barco por um trechinho do rio, deu risadas quando contamos algumas de nossas aventuras pelo mundo, enfim, se enturmou com a gente. O barato dessa trilha é que você não se cansa muito, apesar de andar bastante: como há inúmeras paradas para banhos em cachoeira, toda hora você se refresca. Caminha, nada, caminha, nada, e nesse ritmo vamos relaxando em ar puro.

















Ah, um banho de cachoeira num dia ensolarado...











Um mutum-de-penacho (Crax fasciolata, esse aí uma fêmea com filhotes), animal de "estimação" que perambula pelo quintal da Estância Mimosa - e ameaçado de extinção. Ao lado, uma visão da cachoeira de dentro de uma caverninha atrás da queda d'água.
Mas é depois da trilha que vem o melhor: o almoço na Estância. É comida de fazenda, feita toda ela em fogão de lenha. Nada de pratos mega-requintados: aqui o sabor está na simplicidade. É feijão com linguiça, arroz carreteiro, farofa de banana, carne ao molho de urucum, tudo farto e com gosto fresco de verdade. As verduras vêm todas da horta, as frutas do quintal, e ficam expostas em uma "pia" de água do rio corrente que no passado servia como pia de verdade para a casa, onde se lavava louça, etc. Hoje é decorativa – e que decoração. Adorei.












A comida sendo servida ainda no fogão a lenha; ao lado, as saladas que ficam nesse "mini-córrego" dentro da cozinha. Um barato!

É humanamente impossível comer apenas um prato, porque há um sabor especial e delicioso de roça em cada garfada. De modo que, depois do 2º ou 3º prato, parti para a sobremesa - e vem mais uma leva enorme de doces. Os que mais gostei foram os de jaracutiá queimado, de melancia (maravilhoso!) e o pé de moleque feito em casa. Mas comi um pouquinho de todos, para provar tudo, é claro.












A mesa de doces... o mais central é o de melancia, que eu mais recomendo a qualquer um que visite a Estância Mimosa. Simplesmente perfeito. Ao lado, meu café em canequinha de metal, verdadeira volta no tempo.

Ainda finalizei essa indulgência alimentar com um cafezinho básico. Perguntei então ao Rafael como ele sobrevive magro ali naquele ambiente onde se come tão bem todo dia. Ele sorriu e revelou: "Já engordei 6kg desde que cheguei aqui".

Fica aí a dica para aqueles (raros) seres que têm dificuldade de engordar: uma semana na Estância Mimosa dão jeito em qualquer magreza esquelética. E garanto, de forma saborosa e saudável.

Por Lúcia Malla do Blog "Uma Malla pelo Mundo"

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